"A multidão humana que deambulava ao ritmo indolente de um flanar estival pelas calçadas esburacadas da cidade milenar de AL Qahira parecia acomodar-se com serenidade, e até com certo cinismo, à degradação incessante e irreversível que a rodeava. Dir-se-ia que todos aqueles passantes, estoicos sob a avalanche incandescente de um sol escaldante, , mantinham, em sua vagabundagem incansável, uma benévola cumplicidade com o inimigo invisível que minava os alicerces e as estruturas de uma capital outrora resplandescente . Impermeável ao drama e à desolação, naquele populacho se arrastava uma espantosa variedade de personagens apaziguados pelo ócio - operários desempregados artesãos sem clientela, intelectuais desinteressados da glória, funcionários públicos expulsos das repartições por falta de cadeiras, bacharéis subjugados pelo peso de uma ciência estéril e, enfim os eternos galhofeiros, filósofos amorosos da sombra e da quietude que dela emana -, para quem a deterioração espetacular da cidade tinha sido especialmente concebida para lhes aguçar o senso crítico. Hordas de migrantes vindas de todas as províncias - cheios de ilusões dementes sobre a prosperidade de uma capital transformada em formigueiro - tinham -se aglutinado à população nativa e praticavam um nomadismo urbano desastrosamente pitoresco." Albert Cossery
Esse é o primeiro paragrafo desse livro de apenas 135 páginas tão bem escritas pelo escritor Albert Cassery e que me pegou de "jeito" lendo-o quase em um só folego!
Terminei de ler mais um livro do Albert Cassery, dos oito que escreveu em quase 90 anos de vida. Com exceção do que foi dito por Henry Miller, tudo o que está escrito na capa final desse livro não tem nada a ver com o que o Cassery escreveu nele ou em outros livros. Tudo que esses comentaristas de jornais portugueses, americanos e franceses falam são inverdades.
E é possível entender porque ele teve tanta dificuldade de editar seus livros: foi o maior inimigo do consumo e lutou contra isso a vida inteira. Suas historias se passam em cidades do Egito, apesar dele ser egípcio e escrever sobre a pobreza na maioria das vezes dos próprios egípcios vivia em Paris num hotel de baixa categoria , como e entre mendigos.
Esse AS CORES DA INFÂMIA, parece com o momento politico que estamos vivenciando aqui no Brasil, com esses políticos ricos e corruptos.
Conta a historia de um jovem que se torna um exímio ladrão depois de um famoso gatuno o salvar de se matar por estar vivendo na extrema pobreza, e de nada dar certo para ele em sua miserável vida nos subempregos que consegue. Assim o Nimr, o velho ladrão explana para o jovem ladrão Ossama ":(...) sobre sua teoria do roubo como justa recuperação, pelos pobres, de alguns trocados, num mundo em que os grandes larápios prosperavam impunemente no topo da escala social."
6 comentários:
ah, esse foi aquele q o sebo não enviou. q bom q acabou conseguindo de outra forma. quero muito ler. beijos, pedrita
Sim é aquele. Consegui compra-lo novinho, sem uso, no sebo do Catete que já te falei que é muito bom! Comprei também desse mesmo autor Ambição no Deserto. Que até já comecei a ler hoje no metrô quando estava indo ver uma exposição no Paço Imperial.
Pois Cossery é de facto muito bom escritor e um retratista originalíssimo da pobreza com dignidade e da crítica mordaz à injustiça social, estas características tornam-no dificilmente enquadrável e qualificável pelos críticos literários que por isso erram ao descrevê-lo. Além de ter vivido muito tempo em Paris e numa espécie de vagabundagem que ele tão bem trabalha por exemplo em "Mendigos e Altivos" escreveu sobretudo em francês e daí ser reconhecido como um dos escritores francófonos pela academia francesa.
Ainda bem que gostou muito de descobrir este egípcio, ainda me falta ler vários livros dele, inclusive este, mas o tema promete.
ah, que bom que esse sebo é farto. eu amo um que vou com mais regularidade, faz tempo que não vou, mas é fraquinho, vou pq adoro todos. estou vendo um filme turco na tv a cabo e pensando em vc. é baseado em um livro do tchecov, mas fala da turquia atual.
que massa! deve ser ótimo!
Foi graças a leitura no seu blog Carlos Faria que eu me inteirei do Cosseroy! Com certeza não fosse você eu nunca saberia quem é esse autor. Adoro os escritores egípcios.
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